Vai, mete logo esse pau gostoso. Vai, mete com força. Agora tira para eu ver seu pau. Deixa eu olhar essa pica arregaçando minha buceta. Quero foder até não aguentar mais. Escrever é fácil, falar é outra história. Depois de anos aprendendo que mocinhas não devem sentar de perna aberta, que é feio falar palavrão e, implicitamente, que o sexo é apenas consequência inevitável do amor, o vocabulário da sacanagem não flui tão fácil para as mulheres. Apesar das travas que existem, com um pouco de treino é possível liberar a safadeza das palavras. Mas às vezes leva mesmo um certo tempo para conseguir fazer isso de forma natural, sem sentir vontade de morder a língua.
Mesmo não sendo a mais puritana das mulheres, demorei muito para conseguir pronunciar qualquer sacanagem sem dar risada. Não sei porque a gente sente vontade de rir quando começa a verbalizar a putaria. Além disso, no início, parece que aquela linguagem não nos pertence, como se fosse a boca de outra pessoa falando. Controlar a sensação de que estamos fazendo algo errado também costuma ser difícil.
Por mais que tenhamos nos libertado um pouco e nos permitido ser puta na cama, quando temos vontade, ainda assim prevalece a lavagem cerebral histórica. Não é simples convencer o corpo que não existe apenas uma donzela que nos habita. Mas, por experiência própria, sei que é possível com o tempo domar a língua e falar até com naturalidade as putarias mais sórdidas. Afinal, sexo pra valer não combina com vocabulário cuti-cuti. Fazer amorzinho de vez em quando com frases doces e apaixonadas também é gostoso, claro, porém nos dias de foda mesmo, trepada forte e metelança não dá para falar outra coisa que não seja sacanagem.
Lembro bem quando meu primeiro marido (pois é, já sou casada pela segunda vez, mas ainda sou balzaca!) tentava arrancar a palavra pau da minha boca. Ele insistia para que eu dissesse, mas eu simplesmente não conseguia. Pra ser sincera, nem sei mais se foi com ele que a palavra, finalmente, saiu. P-A-U. Tão simples, tão curta, tão gostosa de dizer. Hoje encho a boca com prazer para falar pau, sem rir, sem dificuldade alguma. Gosto mais de falar pau que pica e rola. Pinto parece ridículo e piroca é engraçado demais. O pessoal do Porta dos Fundos acabou com a palavra piroca. Já foi tanta piada em cima do termo que se eu disser piroca vou lembrar de algum vídeo na hora H, melhor não.
Agora, preciso confessar, a palavra buceta não sai. No papel e na tela, acho que ela se encaixa perfeitamente quando o assunto é sexo para mulheres emancipadas (meio retrô esse adjetivo, não é? mas agora não me vem à mente nada mais preciso), entretanto quando vou pronunciá-la em alto e bom tom ainda travo. Sempre achei essa palavra horrível, porém não sou capaz de analisar se realmente a junção das sílabas é desagradável ou, simplesmente, esse é mais um daqueles resquícios da lavagem cerebral, que nos faz associar buceta a algo feio.
Acho as outras denominações piores ainda: xoxota (ou xota, em versão reduzida), xana (ou xaninha, em versão infantilizada), perereca, pepeca (essa parece mesmo brincadeira de criança), vagina (essa não dá nem pra considerar, só na boca do ginecologista). Resumindo, não há palavra que soe bem. Nem por isso deixo de falar sacanagem, mas acabo usando frases indiretas. “Mete seu pau em mim”, “Estou ensopada de tesão”, “Tira seu pau daí e enfia na minha boca” e por aí vai. Só que fica faltando a palavra certa para falar sem dar voltas. Às vezes, durante a trepada, meu cérebro demora para conseguir fazer essas substituições com clareza. Bem mais fácil seria logo dizer “Minha buceta está encharcada”, “Que delícia quando você enfia os dedos na minha buceta e me chupa ao mesmo tempo”, “Quero seu pau bem fundo na minha buceta e seu dedo no meu rabo”.
Estou perto de completar essa proeza. E acho que o jeito vai ser mesmo adotar a palavra buceta. Essa discussão não é nova. As mulheres sempre tiveram dificuldade em encontrar um bom nome para a dita-cuja, uma palavra com a qual se identifiquem e sintam-se à vontade para falar em voz alta no momento do sexo. Como até agora, pelo menos que eu saiba, ninguém encontrou um nome melhor, estou pensando em fazer uma campanha de revitalização e valorização da palavra buceta. O que vocês acham? Não é bem mais interessante do que xoxota? Será que se falarmos em voz alta muitas vezes a palavra buceta ela acaba se tornando natural e até bonita aos nossos ouvidos? Foi assim que fiz com a palavra pau. De tanto falar, no começo sozinha, fui me acostumando com o som, com a articulação da minha boca até que soou normal.
Azar do meu primeiro marido que não me ouviu, pelo menos que eu me lembre, desferindo sacanagens avançadas. Valeu L., de qualquer jeito, pelo incentivo. Foram anos de treino (e continuam sendo) me aprimorando na safadeza oral. E gosto cada vez mais! O difícil também é saber o que falar, com quem falar, como falar. O limiar entre o excitante e o broxante é tênue, mas esse já é assunto para outro post.
E, então, o que acham de elegermos a palavra buceta como nome oficial, gostoso e safado da dita-cuja? Será que cola? Voltando ao assunto inicial, as mulheres já estão conseguindo falar mais sacanagens na cama, o que vocês acham? Ainda falta muito para libertarmos completamente nossas línguas?
Texto por Para Pensar em Sexo